Cinema norueguês em destaque: Dag Johan Haugerud surpreende com trilogia “Histórias de Oslo”
7 Maio 2025O cineasta norueguês Dag Johan Haugerud conquistou o Urso de Ouro na Berlinale com o filme Träume (“Sonhos”). O longa integra a trilogia Oslo Stories, que chega agora aos cinemas e propõe um olhar sensível sobre a capital da Noruega. A trilogia é composta por três títulos de nomes diretos: Sexo, Amor e Sonhos. No entanto, a versão alemã do primeiro filme ganhou o título Sehnsucht (“Desejo”). A ordem de exibição não é fixa, permitindo ao público explorar cada obra de forma independente.
A proposta dos filmes é quase filosófica: e se Oslo pudesse esconder traços de um paraíso terreno, ainda não percebido por todos? Haugerud, de forma sutil e sem pretensões, sugere que a cidade merece ser examinada mais de perto. E talvez, em suas esquinas e relações humanas, algo se aproxime do que se imagina como “paraíso”.
Träume, lançado em fevereiro na Berlinale, foi reconhecido como o melhor filme da mostra. Com isso, Haugerud, até então um discreto bibliotecário em uma escola de música em Oslo, foi catapultado para o centro das atenções do cinema europeu. A surpresa foi geral: de onde surgiu esse talento tão singular?
Um nome ao lado de grandes mestres europeus
Apesar do recente reconhecimento, Haugerud já vinha produzindo filmes e também é autor de romances — ainda pouco conhecidos fora da Noruega, com exceção de uma tradução em francês. Agora, com a aclamação de Oslo Stories, ele é alçado ao mesmo patamar de nomes como Lars von Trier, Michael Haneke, Alice Rohrwacher e Claire Denis. No entanto, mesmo diante de comparações inevitáveis, Haugerud mantém uma identidade própria e original.
Träume, que estreia esta semana nos cinemas, acompanha a história de Johanne, uma adolescente que vive sua primeira paixão. O amor floresce a partir da leitura de um romance francês, L’esprit de famille, de Janine Boissard, publicado entre 1979 e 1984. Johanne se encanta por sua professora de francês, Johanna — uma mulher com fascínio por um tradicional ofício norueguês: o tricô. Para se aproximar da professora, a jovem também aprende a tricotar, criando um laço afetuoso e delicado entre elas.
Uma narrativa tecida com cuidado e introspecção
O que se sabe sobre a relação entre Johanne e Johanna é revelado através de um manuscrito escrito por Johanne. Nesse texto íntimo, ela tenta entender e organizar seus sentimentos. Inicialmente, ela compartilha o conteúdo com a avó — uma escritora — e depois com a mãe. A tensão aumenta quando surge a dúvida: seria essa relação um caso de amor ou um vínculo potencialmente abusivo?
Haugerud constrói a narrativa como um bordado emocional: cada cena é costurada com silêncio, reflexão e humanidade. O resultado é um filme que não oferece respostas fáceis, mas que convida o público a refletir sobre afetos, fronteiras e a complexidade dos vínculos humanos.
Com sua visão artística delicada e profunda, Dag Johan Haugerud parece ter encontrado uma nova chave para contar histórias universais — e, quem sabe, nos mostrar caminhos esquecidos para reencontrar aquilo que poderíamos chamar de paraíso.